A IGREJA QUE QUEREMOS SER x IGREJA REAL
(Atos 2:45-47)

 

Os sinais da igreja que vemos na igreja primitiva, todos, têm a ver com nossas  relações. A primeira que se menciona é a relação com os apóstolos. Os cristãos se dedicavam a receber e a conservar os ensinamentos dos apóstolos. Também estavam relacionados entre si: perseveravam na comunhão, se amavam uns aos outros, se cuidavam mutuamente. Certamente, se relacionavam com Deus. O adoravam no templo e nas casas, formal e informalmente, com alegria e com reverência. Finalmente os primeiros cristãos estavam relacionados com o mundo fora da igreja, e por isso a cada dia chegavam mais e mais pessoas que recebiam o evangelho de Jesus Cristo.

 

Em primeiro lugar, a igreja que queremos ser, faz parte da igreja que todos de um forma ou de outra estão buscando é uma igreja em que a pregação seja bíblica, é uma igreja onde a Palavra seja exposta de forma transparente e que tenha aplicação prática para nossas vidas. Em segundo lugar, buscamos também uma igreja que tenha comunhão real, onde os membros se cuidem mutuamente e se apoiem. Em terceiro lugar, buscamos uma igreja que seja adoradora, na qual a presença de Deus seja uma realidade. Em quarto lugar, buscamos uma igreja que tenha um ministério voltado para o
mundo.

 

No fundo esta é igreja que queremos ser e que todos buscam, é uma igreja viva, uma igreja que mostra exatamente as características que vimos na igreja primitiva. Essa era uma igreja espiritualmente ativa.

 

Durante o relato de Atos 2, vemos o Espírito Santo que veio como línguas de fogo em Pentecostes, onde foi derramado em várias pessoas e nunca mais deixou a igreja. Esse derramamento, fazia parte da promessa de Jesus e também da pregação do profeta Joel.

 

Se quisermos que isso aconteça hoje, devemos nos humilhar perante o Senhor, aceitá-lo como Senhor e Salvador e buscar de forma íntegra sua plenitude e sua direção.

 

Quando isso ocorrer, nossa igreja se aproximará desse maravilhoso ideal que nos apresenta o livro de Atos, no capítulo 2:45-47: o ensinamento apostólico, a comunhão uns com os outros, a adoração, e a evangelização continua. Essas são as principais marcas da igreja primitiva. É por essas marcas que devemos orar para que nossos irmãos e irmãs, se renovem e cumpram o propósito para o qual Cristo fundou sua igreja!

 

Sabemos que hoje existe uma tensão entre a igreja que queremos ser e a igreja real. Há uma distância ainda entre o que a igreja é agora e o que ela deverá ser algum dia. Lembrando que um dos motivos dos escritos(epistolas) dos apóstolos, foi a correção de problemas internos/externos com as igrejas recém criadas. Um bom exemplo disso estava na igreja em Corinto que não escapava desta ambigüidade, como se torna evidente a repreensão do apóstolo Paulo, desde os primeiros versículos da carta:
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões entre vós; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer. Pois a respeito de vós, irmãos meus, fui informado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz:
Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo.

 

Será que Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus que a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio; para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. É verdade, batizei também a família de Estéfanas, além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo. (Bíblia Sagrada Anotada - 1º Corintios 1:9-17).

 

Quando lemos os primeiros capítulos desta carta aos Coríntios, encontramos essa imagem ambígua da igreja. Não poderia ser de outra maneira: o que o apóstolo descreve é a igreja real, com suas contradições e paradoxos, essa, muitas vezes é a igreja que existe em nós.

 

Podemos dizer da igreja o que John Newton dizia de si mesmo. Ele no passado havia sido traficante de escravos e logo que se converteu, chegou a ser pastor e escritor de hinos, um dos quais é o tão conhecido “Maravilhosa graça”. Newton dizia o seguinte:
“Não sou o que devo ser, não sou o que quero ser, não sou o que um dia espero ser; mas graças a Deus não sou o que fui antes e é pela graça de Deus que sou o que sou”. 

 

Essa é a realidade da “igreja que queremos ser” mas “ainda não somos”. A igreja é o povo santo de Deus, que foi comprada pelo sangue precioso de Jesus Cristo e santificada pelo Espírito Santo. Há uma tensão inevitável entre a realidade essencial e a realidade atual, entre a “igreja que queremos ser” e o “ainda não”. Para manter o equilíbrio é fundamental recordar que vivemos entre dois momentos chaves na história: entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. A história da igreja transcorre entre o que Cristo fez quando veio e o que fará quando vier outra vez, entre a
“igreja que queremos ser” do Reino inaugurado e o “ainda não” do Reino consumado.

 

Como foi falado, a situação é especialmente evidente na desunião entre cristãos. Infelizmente, os grandes problemas das nossas igrejas, estão dentro dela e não fora. Sem duvida há uma só igreja de Cristo, mas não mostramos e nem desfrutamos dessa unidade. A igreja é um povo santo de Deus, comprada pelo precioso sangue de Jesus e santificada pelo Espírito Santo. No entanto, a realidade ambígua da igreja é um desafio para que busquemos santidade e procuremos unidade em torno da essência do evangelho da cruz de Cristo.

 

Como igreja, não queremos nos concentrar apenas em manter ou conservar a estrutura, queremos atentar para às mudanças do mundo e sermos pró-ativos, implantando a cosmovisão cristã e procurando fazer sempre o melhor para o Senhor. Daí então podemos ainda nos perguntar, que tipo de igreja queremos ser:
Queremos ser uma igreja com uma mensagem bíblica, relevante e transformadora;
Queremos ser uma igreja onde o estilo de vida das pessoas cause impacto na sociedade onde vive;
Queremos ser uma igreja que seja agente de transformação da sociedade e da região onde está inserida;
Queremos ser igreja de Jesus baseada nos fundamentos da igreja primitiva(Atos 2:42-47), cumprindo e vivendo sua missão integral, contextualizada para este século, isso significa que as nossas mensagens e os nossos ministérios devem ser atuais;
Queremos ser uma igreja grande, que pensa grande e que influencia as pessoas com grandeza e simplicidade;
Queremos ser uma igreja que possui o foco nas pessoas, para que elas compreendam a graça de Deus, sejam transformadas pelo Espírito Santo e façam diferença no mundo;
Queremos ser uma igreja que capacita pessoas no intuito de enviá-las para os campos para anunciar as boas novas do evangelho;
Queremos ser uma igreja marcada pelos relacionamentos e marcados pelo amor, amor que anima, ajuda, aconselha, orienta; amor que me capacita para o exercício da disciplina (Mateus 18:15-35/Gálatas 6:1-2);
Queremos ser uma igreja em que a comunhão seja um meio pelo qual as pessoas conheçam a Cristo (João 17:21);
Queremos ser uma igreja que ame a ponto de estender a mão ao caído e, à semelhança do bom samaritano, o socorra em suas necessidades (Lucas 10:25-37);
Queremos ser uma igreja que se identifique com as pessoas que estão à sua volta, fazendo diferença com a prática do amor que é o dom maior;
Queremos ser uma igreja que se relacione com a comunidade, e faça diferença assim como foi pregado por Jesus, sejamos sal e luz, nesse mundo tenebroso (Mateus 5:13-16/Mateus 13:33);
Queremos ser uma igreja firmada na verdade, que não se deixa levar pelos ventos de doutrina deste tempo (Efésios 4:13);
Queremos ser uma igreja que não apenas conheça as Escrituras Sagradas, mas viva de acordo com Ela (Tiago 1:22);
Queremos ser uma igreja em que a música seja um instrumento de inspiração e edificação do povo de Deus (Salmo 150);
Queremos ser uma igreja que faça discípulos de Jesus Cristo, capacitando-os a fazer outros discípulos (Mateus 28:18-20); e
Queremos ser uma igreja que investe na prática da oração, porque entendemos que uma igreja que prevalece é aquela que caminha de joelhos (1ª Tessalonicenses 5:17;Mateus 6:5-15).

Quando o apóstolo Pedro pede que nossas ações glorifiquem a Deus (1ª Pedro 2:12), ele está dizendo que apenas uma vida exemplar pode glorificar a Deus. Não vamos vencer o mundo apenas pelas palavras, mas principalmente pela vida, através de nossas atitudes e piedade. A nossa maior pregação para as pessoas é o nosso testemunho
de vida. A verdadeira igreja é aquela que vive o que prega.

 

A igreja não basta ter o nome de cristã, isso apenas não muda a vida das pessoas. Ela deve expressar o caráter cristão nas suas relações e no seu ambiente.

 

Como afirmou John Macarthur em seu livro, Redescobrindo o ministério pastoral ,o homem/mulher pós-moderno necessita ver uma igreja séria, espiritual e coerente em sua fé. As pessoas estão cansadas de tanta hipocrisia. De pessoas que discursam bem, mas que não praticam nada do que falam.

 

Concluo esse artigo afirmando que é possível ser uma igreja bíblica e relevante num mundo pós-moderno. No entanto, é necessário muito esforço e empenho para sermos a igreja que queremos ser e a igreja que Jesus gostaria que fossemos.

 

Pr. Dr. Gervásio Melquiades Gomes